Trote: Boas-vindas ou atitude de supremacia sobre o outro?

Trote: Boas-vindas ou atitude de supremacia sobre o outro?

2020, Jun 09    

O trote universitário é considerado um ritual de passagem que demarca uma nova vida, seja com a transição do ensino médio para o ensino superior, como com a transição para a vida adulta. O trote possui o objetivo de celebrar por meio de gincanas e brincadeiras a chegada de novos alunos ao meio universitário, porém o que se tem observado é que muitas das práticas possuem caráter violento e vexatório. Não é raro que os calouros sejam submetidos pelos seus veteranos à humilhações e situações de riscos, prejudicando a integridade física e mental.

Muitas são as notícias vinculadas pelas diferentes mídias de trotes regados à bebida alcoólica, apelidos pejorativos, além da imposição de atividades que colocam os calouros em posição de subalternidade. Atitudes racistas, homofóbicas e machistas também tem sido exposta em trotes universitários, reforçando a necessidade destes assuntos serem tratados/ensinados no contexto universitário, buscando o respeito às diversidades e o combate a todo e qualquer tipo de violência. Trotes violentos também tem sido responsável pela manutenção das práticas nos anos seguintes, assim o calouro que se torna veterano se vinga do que lhe fizeram um dia, contribuindo para uma compreensão errônea de que tudo não passa de uma brincadeira, de uma tradição. Ressalta-se que trotes violentos não contribuem para a criação de laços e relações saudáveis dentro do ambiente acadêmico.

A violência (velada ou explícita) contida na maioria dos trotes brasileiros contribui para consequências de ordem psicológica aos envolvidos. Transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão são as principais psicopatologias que podem ser desencadeadas em virtude do sofrimento acometido. Os índices de insucesso escolar e evasão também possuem relação com experiências negativas no momento do ingresso à Universidade.

Enquanto estudantes universitários, acreditamos que o trote deva ser uma atividade crítica, que seja realmente um rito de iniciação à cultura universitária e que promova cidadania, humanismo e democracia entre os acadêmicos. Não é a toa que algumas universidades já introduziram os trotes alternativos (doação de roupas, comida, sangue, atividades voluntárias em instituições carentes, etc.) com o intuito de acabar com essa tradição violenta que nada tem a ver com um ambiente que visa a formação de seres conscientes, humanos e ético-profissionais.

Autores:

SILVA, B.N.; SILVA, L.F; JUNIOR, N.M.S.; DIAS, R.S.; MELO, V.O.C.